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5ª: EM QUE ESPELHO FICOU PERDIDA A MINHA FACE?

 

 Jô: estudante, professora, coordenadora, diretora. Cada memória é uma escola. 

  AÇÃO:  

 Dia 6 de junho de 2014 - em frente ao Instituto de Educação do Rio de Janeiro - Tijuca  

 

Jô (Joséa Lima), 81 anos de idade, em uniforme colegial, relembrando sua época de estudante e dentro de uma relação de vida inteira profissional em dedicação à educação no Rio de Janeiro (sendo professora, pedagoga e diretora de colégio), senta-se em uma carteira de estudante, colocada na porta de entrada de um colégio e por ali permanece durante a troca de turnos de alunos.


O ISERJ completou 134 anos. Seu prédio é uma construção histórica, além de ser referência de ensino no país. Uma construção social e pedagógica de grande relevância. O prédio antigo aqui entra em diálogo com o envelhecimento.
 

Na mão de Jô, um relógio de bolso, parado, mas marcando o tempo. Atrito entre tempos: a memória atualizada. Em seu rosto, um óculos de espelhos (ou  "espelhóculos" ) - nos quais os transeuntes e curiosos podiam passar e olhar-se, encaixando a imagem de seu rosto no rosto dela. Os espelhóculos, na performance estimulam a alteridade, o olhar cuidadoso sobre o idoso e o tempo que passa - e sobre nosso próprio destino. Olhar-se no espelho.

Durante as duas horas de ação (de onze e meia da manhã até uma e meia da tarde), a performer falava apenas um verso de um poema de Cecília Meireles, insistentemente, repetidas vezes, de forma mecânica e mostrando uma voz abalada pelo tempo e por um acidente vascular cerebral que teve há alguns anos - o que dificulta sua oralidade:

 

 - EM QUE ESPELHO FICOU PERDIDA A MINHA FACE? 

 

- perguntava Jô.

Jô foi participante da Oficina de Performance e Envelhecimento (oferecida pelo PROJETO PERFORMANCIÃ) no Programa Renascer (programa de extensão da UNIRIO) durante dois meses, realizando quatro ações. Ela se mostrou interessada em realizar uma performance na qual pudesse abordar suas memórias em relação ao universo escolar. Alguns encontros aconteceram com a performer para que essa ação fosse elaborada - escolha dos elementos,  do dispositivo relacional, do espaço em que a performance ia acontecer... 

O interstício no espaço da performance faz com que o inusitado se apresente: aos  8 minutos e 20 segundos do vídeo, registramos um encontro não combinado, de uma pessoa que conheceu a história profissional da performer - somando-se aos comentários dos transeuntes no vídeo de registro documental.

 RETRATO 

 

"Eu não tinha este rosto de hoje, 

assim calmo, assim triste, assim magro, 

nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, 

tão paradas e frias e mortas; 

eu não tinha este coração que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, 

tão simples, tão certa, tão fácil: 

Em que espelho ficou perdida a minha face?"
 


MEIRELES, C. Obra poética. Volume 4. Biblioteca luso-brasileira: Série brasileira. Companhia J. Aguilar Editora. 1958. p 10.

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