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7ª: OPERAÇÃO TAPA-BURACO!

 

As calçadas do Rio são um grande problema para a população. E um perigo para os idosos cariocas. Essa afirmativa foi definitiva e unânime nas rodas de debate da Oficina de Performance e Envelhecimento, oferecida pelo PROJETO PERFORMANCIàao Grupo Renascer

 AÇÃO: 

Junho de 2014. Momento pré-Copa do Mundo no Rio de Janeiro.

Os participantes da Oficina de Performance e Envelhecimento chegaram à seguinte ação performática: encontrar uma calçada esburacada para que pudessem deitar, numa operação de denúncia e protesto chamada aqui de "Tapa-Buraco". Uma fila com 10 pessoas com mais de sessenta anos se formou próxima ao grande buraco e, cada idoso, individualmente, deitava-se por um período de tempo, após colocar um figurino específico e padronizado (blazer acolchoado com espuma na parte interna e uma longa saia) para a ação. Fora isso, uma bengala caída próxima ao corpo - demonstrando a fragilidade e as dificuldades físicas que o idoso pode atravessar em sua vida, além de também ilustrar o estereotipado símbolo destinado à identificação do idoso em placas, anúncios, instituições, etc. Quem é o idoso que anda pelas ruas e cai? Será somente o idoso a passar por essa situação?

Para a ação, dois cones sinalizavam o impedimento da passagem e o alerta para o perigo – fora as informações trazidas sobre queda de idosos, suas causas, suas consequências e outros dados. Uma placa também informava o nome da oper/ação. Duas imagens foram criadas para a ação, confundindo os transeuntes ao apresentar a performance como se fosse uma operação oficial da prefeitura. No lugar de um logotipo original da prefeitura, a frase: RIO DOS IDOSOS - numa relação dúbia de ser uma cidade perfeita para um idoso morar e pelo riso e descaso com sua condição.

Enquanto um deitava / meditava / experimentava o buraco, os outros esperavam. Se alguém perguntasse o que se passava ali, as senhoras respondiam apenas: "é a operação "Tapa-Buracos!". Uma verdadeira operação em uma ferida aberta da cidade.

Estamos no buraco. Todos. Precisamos mostrar, gritar, deitar. O ato de deitar-se no buraco e experimentar o tempo e o espaço também nos faz recordar dos registros de silhuetas criadas pela artista e performer Ana Mendieta.

O ato de deitar-se na calçada evidencia o próprio buraco - alguns transeuntes relataram nunca terem visto aquele buraco antes ali, por não se atentarem enquanto andam por ali. Muitos pensaram se tratar de queda, doença cardíaca, morte. Pessoas paravam o carro para ajudar. Pessoas atravessam a rua para ver de perto. Pessoas olhavam das janelas do ônibus e dos prédios. Pessoas desceram dos prédios. Os que visualizavam as placas e cones com as informações da ação, se sentiam aliviados. Agradecíamos pela solicitude de todos os que se mobilizavam. Muitos falavam sobre os gastos para a Copa do Mundo e sobre o descaso político com a cidade e sua estrutura.

Um homem ligou para o atendimento do SAMU e para os bombeiros. Ao saber que se tratava de uma performance, teve que ligar novamente para o atendimento cancelando. Uma viatura da polícia militar se aproximou para entender o ato, afirmando que não poderíamos fazer uma "brincadeira dessa" na rua, só se colocássemos uma faixa gigante explicando. Eu disse não se tratar de uma “brincadeira”, mas de um protesto sério, legítimo e artístico, dentro de um projeto de pesquisa da pós-graduação de uma universidade. Também lhe informei que as informações que apresentavam a ação como performance estavam ali presentes, nos cones, sinalizando. Caso alguém se enganasse pela evidente imagem ofertada pela performance, logo confrontariam as informações e compreenderiam. O policial disse ter tido que parar a viatura no meio da rua por conta disso: eu o agradeci pela presteza de seu trabalho. Mediante argumentos políticos sobre manutenção da cidade e as informações do objetivo do trabalho, finalmente entendeu a proposta, nos parabenizando, por fim.

Devemos investir com arte naquilo que nos incomoda.

 

A rua é de todos, a calçada é pública!

A realidade, sim, não é brincadeira.

 

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